quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A paz do freezer e pensamentos aleatórios

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Então a vida é como o freezer e ficar olhando pros gelinhos grudando nos cantos. O gelo está sempre ali e ali e ali. E eu gosto dessa facilidade que existe: se ele vira água a culpa não cai sobre ele, a maldita culpa. Se ele fica no freezer, nenhuma mudança, ótimo. Um gelo não sente frio, o gelo É o frio, então a vida é simples como um gelinho idiota olhando pra mim com cara de nada, porque um gelo é um monte de nada que vira água e depois evapora, aí vira um monte de nada nada nada e depois vira água de novo. Inútil. Mas confortável. Não existem muitas opções, é sua natureza. Eu queria ser um gelinho, porque olhando ali, meio abobada, meio reflexiva, com a cara dentro do freezer aberto e sentindo um absurdo prazer de pensar que a vida é todo o gelo ali, as coisas como são e ninguém poder fazer nada porque o frio da vida é a própria vida. E a natureza de tudo está na própria natureza de tudo. E me senti como um gelo derretendo lentamente, asfixiando dentro de um copo de refrigerante, e leve leve leve leve, querendo voltar pra paz do freezer. Porque lá as coisas vivem antes de morrerem de novo. E porque lá o tempo para, mesmo eu não acreditando muito nesse negócio de tempo. E lá você é um gelinho, nada de especial, ninguém pra ser, nenhuma obrigação de ser nada, além daquilo grudando nas paredes, nada de luz do sol. Ninguém quer derreter. Mas o gelo pode ressuscitar e eu gostaria de acreditar que não, que a gente pudesse ficar pra sempre e sempre e sempre dentro do freezer. Parados no tempo, no espaço, com qualquer idiota olhando pra gente e a gente não sendo nada. E não se sente frio. E não se sente o calor porque o calor não existe, é a falta do gelo próprio. Aí a pedrinha derrete e nem sente calor, vira calor, um frio a menos. E todo o resto suando e água por aí virando gelo de novo. A paz do freezer. E a gente sempre se transformando em alguma coisa e voltando a ser o que era. E o ciclo todo se repete e nada da paz mundial, só a paz do freezer e de cada um sendo o frio do seu próprio gelo. E nada.

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