sábado, 22 de maio de 2010

Cicatrizes.



Pensemos em um papel, rabisque algo bem forte sobre ele. Agora apague com uma borracha. Por mais que você tente, sempre ficarão algumas marcas. Quanto mais forte for o rabisco, mas difícil de apagar. Sim você pode escrever algumas coisas por cima, mas você sempre vai notar aquele fundo de rabisco que você foi incapaz de corrigir. Assim são a vida, as pessoas. Tudo que você fizer de concreto nunca deixará de existir sobre o papel. Assim reconstituo lembranças. O tempo pode amenizá-las, mas nunca apagá-las quando forem muito dolorosas ou marcantes.
Sinto sua falta. Sinto falta do grande rabisco que eu construí, como se fosse a nossa história. Também me lamento se o rabisco que você construiu foi menor do que o meu. Me lamento se você conseguiu apága-lo com tanta facilidade e eu ainda estou aqui, tentando desmanchá-lo. Mas eu sei, ou pelo menos tento acreditar que sei que, por menor que seja o seu rabisco, você ainda pode vê-lo. Assim eu espero, que você não apague tudo de uma vez. Você tem certeza do que realmente está fazendo? Você acha que rabiscando por cima do nosso grande rabisco vai conseguir me fazer ver que ele sumiu, ou simplesmente está tentando se enganar buscando um jeito de esquecer que ele ainda está ali? Pare e pense um pouco. Rabiscos podem ser histórias do mesmo jeito que simples marcas no papel podem ser cicatrizes. Cicatriz. Algo que permanece ali, como uma simples marca no papel, sempre te lembrando que ou você busca formas de escrever por cima delas, ou você se rende e nunca mais escreve.