sábado, 1 de fevereiro de 2014

Três e sete da manhã

Maaaa👌

São 3:07 da manhã. O casal está dormindo na cama. Ela acorda. Cutuca o marido: acorda, Paulo, preciso falar com você, é urgente!  Ele, meio sonâmbulo, meio acordado:
“é, eu também acho, eu também acho, Maria, o nosso casamento tá uma merda mesmo!”.
O que, Paulo, ela vocifera baixinho. Eu ia pedir pra você partir um coco pra mim. Deu vontade. Vai lá, por favor.
“Cala a boca, mulher, tá tarde, eu trabalho amanhã.”
Eu também, vagabundo, e o que você ia dizer do nosso casamento?
“Que casamento, Maria?”
Cala a boca e vai buscar o coco pra mim.
“Eu não vou”, e olha pra ela cansado como quem diz que vai virar pro lado e dormir pra sempre.
Então tá, mas eu estou grávida, Paulo.
“De quem?”, ele se vê perguntando, erguendo-se.
De você, seu retardado, de você! Ele se senta então, sabendo que ela não ia deixá-lo dormir tão cedo.
“Mas Maria, a gente nem faz mais amor”.
Amor a gente não faz mesmo não, mas você bebeu a garrafa de vinho toda outro dia e a gente fez direito. A gente não fez amor, foda-se o amor Paulo, a gente só fez. E eu estou grávida, vai buscar o coco pra mim.
“Maria, se você estiver mesmo grávida, quem faz as malas, eu ou você?”.
E ir pra onde, imbecil? Nós vamos ficar aqui.
“Nós quem, Maria? A gente existe?”.
Vai dormir, Paulo, eu vou lá abrir o coco pra mim e pro nosso filho já que você não é o homem o bastante. Vê se amanhã você toma seu remédio porque eu gosto mais dele do que de você.
"É mentira”, ele disse baixinho, sem ter certeza de que ela tinha escutado.
É mentira mesmo, seu filho da puta, mas você não merece ouvir a verdade! Paulo dormiu. Maria foi até a cozinha, abriu o coco, não comeu, perdeu a vontade, tomou o remédio, passou a mão pelo ventre, dizendo boa noite ao filho, talvez existente, talvez não. E dormiu. Nenhum dos dois acordou. Mas eles levantaram e escovaram os dentes.