sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Vela acesa

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Era como uma vela acesa
No escuro
E eu queimava em brasas
E eu ardia em chamas

Era apenas uma vela
Que seguia iluminando túneis
E poços e esgotos e almas
Calmas

Vela acesa lúgubre
Dos que rezam malditos
A cópia de um ilustre amor
Fúnebre

Era uma vela acesa
E eu que sempre tive medo
De riscar os fósforos
Respirei fundo e fui-me

Queimei mais do que as duas mãos
Trêmulas
Mas fui-me: a toda parte
Ingênua

Eu ardia em chamas
E achava lindo
O fogo se alastrando
Tomando conta de tudo

E o mundo em silêncio
Eu achava lindo
Só uma vela acesa
A minha voz, presa

Até que bateu um vento
E enfim: o fogo tremeu nas bases
Um rastro de luz teimava ficar
Mas a luz da vela apagou-se

E eu que nem tinha mais fósforos
Nem dedos pra queimar
E eu que perdi o medo
E deixei de achar linda

A coisa mais linda do mundo
E eu que queimava em brasas
Vi a luz da vela se apagar
E o que disse? Nada!

Foi-se, como quase tudo
E eu nem me lembrava da sua existência
Fraca, insípida, e rápida
Mas que, enquanto pôde, iluminou mares e morros
Mesmo que minha, não fosse

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