sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Ponto e vírgula;


Provavelmente esse é o vigésimo texto que eu faço sobre você em o que, uns dois anos? Tantas palavras, tantas vezes essa página em branco em aberto. Sempre alguma coisa pronta pra ser preenchida, com dor, saudade, ressentimento, com qualquer coisa que me lembrasse você. Sentimentos que eu sempre precisei botar pra fora pra que não me sufocassem. Você foi durante muito tempo o personagem principal das minhas historinhas, a piada pronta e crucial que eu não quis contar pro primeiro que eu viesse a conhecer. Por muitos dias e semanas e meses que passaram,  o segredo no meio dos lábios, a lágrima de saudade ou de desespero que eu não quis mostrar, após uma briga, por não saber o que fazer. Outras,  o motivo do sorriso bobo ao responder uma mensagem ou ao chegar em casa após um longo dia e ver você falando comigo e me fazendo rir. Aquele momento em que eu finalmente me sentia em paz, como se fosse o único instante do dia em que eu conseguisse respirar de verdade. Era mentira aquilo que eu disse, de que os meus banhos demorados são o único momento no dia em que eu me sinto verdadeiramente bem. Mentira, mentira, o  momento em que eu me sinto bem é quando eu falo com você. Hoje eu aprendi o significado daquela famosa expressão: “casa é qualquer lugar em que eu esteja com você”, e no meio dessas estranhas confusões em que eu me meto, fico pensando que preciso voltar para casa. Mas você é a minha casa. E eu sempre te procurava quando estava infeliz, mas e quando estou infeliz por tua causa, eu recorro a quem? Sei que você disse que ia fazer de tudo que pudesse pra nunca mais me magoar, mas olha lá, você fez isso de novo. Não te culpando ou nada, mas não posso deixar de negar os fatos, sempre que está tudo dando certo, você coloca tudo a perder. Eu fiz muitos sacrifícios por você, e agora faço mais um deles. Eu lhe disse que nunca ia te abandonar, e não vou, mesmo que às vezes eu sinta vontade de correr pra longe de você e nunca mais ter que chorar. Eu fico, como a amiga que sempre te escuta e ri de você no fim do dia pra que você se sinta um pouco melhor com toda essa amargura que existe dentro de você, e pra me livrar um pouco da amargura de não ter você por inteiro. Preciso admitir que é um tanto quanto triste não ver os seus olhos com tanta frequência, mas toda vez que os vejo, é como se eu abrisse a janela da minha alma e só enxergasse estrelas. Como se eu fosse sugada pra dentro de você. É isso, eu fui soprada como uma brisa morna pra dentro do teu corpo, e eu nunca mais consegui me libertar da tua alma. Tua alma grita pra mim um monte de escuro e medo. Tua alma grita pra mim e eu tento encher teu corpo e mente com um pouco de luz, mas eu não consigo mais sair da tua alma, ou eu não sei, eu não consigo mais fazer com que você saia da minha. Eu coloquei outdoors nas ruas, pintei um céu cheio de estrelas,  fiz chover simplicidade. Voltei atrás em absolutamente todas as minhas escolhas, voltei atrás por você, porque eu te quis caminhando comigo. Eu fiz tudo por você, e eu era capaz de muito mais. Ah, eu era sim. Meu amor, ah meu amor, eu fiz de tudo pra você ver que era eu. Eu no meio dessas meninas com corpos e rostos bonitos que não dão a mínima pra você. Era eu esse tempo todo, olhando de esguela do outro lado da rua, esperando chover pra você vir correndo pro meu guarda-chuva. Eles não te amam como eu. Quando você vai entender isso? Aliás, quando você dará valor a tudo isso? Você está perdido, perdido como alguém sem casa, sem telhado. E é por isso que você me ama tanto e ao mesmo tempo não pode me amar. Você não pode me amar sem antes resolver a sua vida, e é muito egoísmo da sua parte, me colocar na retaguarda, me chutar pro outro lado da rua de novo como se eu fosse mais uma coisa da sua vida cheia de coisas que não são ela. O guarda-chuva está comigo aqui ainda, do outro lado da rua, mas eu não sei por quanto tempo você vai ficar molhado agora. Eu não vou mais passar pro outro lado da rua pra ser tirada desse jogo que a gente chama de amor como se eu fosse um punhado de nada. Eu não vou mais esperar por você. Eu esperei quase dois anos e sou incapaz de esperar mais um segundo. O mar tá bravo, meu amor, e eu preciso voltar pra praia. Você precisa aprender a navegar e tomar conta do seu barco pra achar o caminho de volta pra mim. Acontece que dessa vez, quando você resolver cruzar o outro lado da rua, talvez seja finalmente tarde demais. Tá chovendo muito, tá chovendo forte meu amor, e o guarda-chuva não cabe mais nós dois. Esses dias andei pensando que você é como um cigarro: eu gostaria de te tragar e deixar a fumaça dentro de mim pra sempre, mas não dá, tá queimando, tá queimando a boca, a garganta, os meus pulmões, tá queimando tudo, e eu tenho que jogar a fumaça pra fora porque por mais que a sensação seja boa, ainda assim é perigosa. É isso que você é na minha vida, como as águas lindas e perigosas do mar. Eu vou continuar te vendo de longe e ficando na beirinha, pra te apreciar e ver a coisa mais linda do mundo que nunca foi minha, por mais que você insistisse que fosse. Mas entrar nas suas águas pra me afogar é mais do que você tem o direito de me pedir, eu nunca soube nadar direito, e mesmo assim eu tentei, eu tentei e fiz de tudo, mas depois que a gente leva um, dois, três caldos, a areia é mais segura. Você não deixa de ser lindo apesar da escuridão, mas esse mar se tornou grande demais, denso demais, incerto demais, e no fim, muito mais do que eu jamais pude aguentar.

"Você sabe aquele lugar entre o sono e a vigília, o lugar onde você ainda pode lembrar sonhando? É onde eu sempre vou te amar."

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Quando a dor já não dói




Olho para cima, para o céu denso infinito e escuro como um piscar de olhos e tudo o que consigo ver é a lua minguante, verticalmente bem acima de minha cabeça.  Ao me inclinar um pouco, a copa do telhado me indica um enorme buraco em forma de coração. Não, não é ilusão, é realmente um coração. Não faz frio, tampouco está quente. É uma típica noite de verão e eu só digo isso porque todo mundo fala do tempo quando na verdade o tempo nem existe e é tudo ilusão essa coisa de que o tempo todo, o mundo todo girando em torno do tempo. As luzes dessa noite chegam aos meus olhos um pouco turvas e refletidas por causa do incômodo da lente que apesar de tudo me faz enxergar. É importante conseguir enxergar mesmo que doa. Como ver uma dolorosa morte nos pequenos detalhes. Ou mesmo os detalhes bonitos: não se enxerga as folhas de uma árvore uma por uma, individualmente sem doer um pouco, porque sempre dói pregar a atenção no que é bonito. Pelo menos pra mim, porque eu esqueço até de piscar e aí fica tudo embaçado mas não deixa de ser bonito e individual e único e indiferente de mim assim mesmo. Tudo continua igual, mas eu sinto como se estivesse diferente. Como se os arrepios que eu sinto quando um vento sopra fossem mais agudos, ou menos tortuosos e torturantes, como se eu gostasse de doer só pra não ficar doendo. Como se eu deixasse de sentir dor quando soubesse que ela está lá. Porque o que dói mesmo é não doer, é não sentir nada.  O vazio me preenche de tantas formas possíveis e impossíveis que ele vai me engolindo e vai abrindo-se um buraco pro infinito e de repente o buraco sou eu e o infinito também. E é por isso que dói tanto, porque não dói. Simplesmente porque odeio ver um monte de cores e sequer conseguir distingui-las, me faz mal e me deixa doente escutar tantas vozes e mesmo assim elas não fazerem sentido algum, como se fosse um sussurro em outra língua e eu sorrindo com o doce gosto de um adeus que sempre volta. Eu não sinto dor quando a dor chega mansa e calma como uma brisa porque ao menos eu tenho controle sobre isso. Eu sei domar a minha dor, porque a minha dor não sou eu. Existe a dor e existo eu. Mesmo que quando a dor exista eu não me torne assim tão visível por ela nem por ninguém. Mas acontece que quando chega o vazio, o vazio não existe por si só, o vazio sou eu, e aí eu não sei voltar pra mim e eu não sei o que é isso que me perturba tanto e eu odeio não saber porque aí parece que eu vou adormecer sem saber nada e de repente tudo pegando fogo, e ardendo em chamas que não há água que apague. E a dor volta como uma velha amiga e eu gosto dela porque pelo menos ela tem forma, pelo menos consigo vê-la sem me cegar, assim como consigo ver as folhas das árvores e distingui-las uma a uma, mesmo que doa um pouco, porque ainda assim é melhor do que não ver a dor e por isso doer tanto, porque quando eu não vejo eu não sei o que é e todos estão rindo ou chorando e estou ardendo ou coexistindo ou amando  e eu ainda não sei o que é, ainda não consigo ver, não sei do que falam. Eu gosto de te ver assim, ao longe, ou perto, mas gosto de te ver nítido, gosto de saber o que eu sinto mesmo que eu não esteja gostando de sentir, gosto de te ver bonito, gosto das suas mentiras ou das suas verdades desde que elas sejam algo. Gosto de ver você tomando forma na minha frente e voltando tão vivo como uma chama pra minha vida e gosto que o amor reacenda mesmo que de fato eu nunca tenha conseguido apaga-lo, porque mesmo que doa o queimar das minhas veias e mesmo que eu comece a cuspir fogo e implorar por um socorro que nunca vem, e eu nunca sei chamar nem sei a quem nem como e nem quando, ainda assim eu consigo vê-lo. O amor, você, o cheiro, o toque, as suas loucuras tão suas, a sinceridade que esconde algum segredo, as mentiras, a paixão, qualquer coisa. Assim mesmo, qualquer coisa, eu vejo qualquer coisa cheia das coisas que são você que sou eu também. Mesmo que doa e me sugue e me transforme, ainda assim eu consigo ver. E eu não preciso clamar socorro porque você vem quente como uma tempestade e eu consigo te ouvir se aproximando, e eu gosto que você me domina por completo e ainda assim eu vejo tudo, muito melhor do que quando você vai embora e eu fico me tornando o vazio que eu sou mais uma vez, sem sentidos, direção ou noção alguma do que está na minha frente ou do que está acontecendo porque na verdade o que está acontecendo sou eu, e eu não gosto quando sou eu que aconteço o tempo todo como se não acontecesse nada. Não acontece nada. Não, eu não preciso pedir socorro, hoje mesmo eu até tentei gritar, eu saí correndo pra longe daquela outra pessoa parada na minha frente e eu não conseguia vê-la de repente porque é só você em mim no vento em todos os lugares, e eu te vejo assim tão nítido como a dor e quero bater e cuspir fogo no menino ao meu lado, eu quero cuspir você nele porque ele não é você e eu não consigo vê-lo e é por isso que ele é tão feio e daí vem a repulsa, o nojo e o ódio. Nojo de mim porque estou tentando pedir socorro de novo. Vergonha de mim e dos meus tropeços, do modo como sempre vou perdendo o sapato no meio do caminho e de que eu tento gritar e não sai nada, não sai nada, ninguém olha pra mim, ninguém me vê, ninguém ouve. Olha cara, não dá, eu digo pra ele. Não dá por quê? Porque não, porque não, quase grito sem voz alguma, você é só um formato embaçado que faz parte do vazio e o vazio não vai me sugar e eu não consigo ver você e vai embora agora, aí eu saio correndo e não encontro lugar algum ou pessoa que possa me salvar da minha espiral de paranoias, porque eu te amo eu te amo eu te amo ainda e por mais um dia e última noite última lua última estrela última flor última nuvem, eu te amo como se fosse a última e sempre a primeira coisa que eu fosse capaz de fazer. O seu fogo atinge em mim lugares que nem chama de verdade atinge, porque você é muito mais de verdade do que todas essas coisas que nem existem e que eu nem consigo ver direito. Você me queima por completo e eu sinto dor mas eu consigo ver o vermelho em volta e o laranja também e é muito mais quente do que essa noite meio fria, meio quente, porque sei lá, ficar sem se queimar é muito mais doloroso do que o calor do seu fogo. Faz tempo, faz tempo que eu não sinto os seus braços, me abraça, quero te tirar do vazio, quero te tirar do vazio que é não sentir dor e mesmo assim sentir tanta,  quero tirar você daí, quero te tirar da sua espiral de paranoias, vem morar na minha, quero te tirar do perigo que é achar que não tem perigo nenhum. Eu te amo eu te amo. Vou correndo, gritando e soltando fogo pelos meus pés e tropeçando e. Não há necessidade de implorar por socorro, acho que dessa vez eu não quero mesmo ser salva por ninguém sem ser você. Vem,  me queima. E me salva da dor de não sentir nada. De novo e de novo e sempre como nunca jamais e por tanto tempo mesmo que o tempo não exista o tempo todo.


"você pode ter todos os defeitos do mundo, mas ainda é melhor do que o resto do mundo"

domingo, 16 de dezembro de 2012

Pedrinha



Eu não sei que horas são, mas os relógios grandes aqui de casa vivem querendo me informar. Eu odeio esses relógios porque parece que ficam contando todos os minutos da minha vida. Mais tantos segundos pra você viver. Mais uns anos pra você morrer. E aquelas badaladas esquisitas que me dão vontade de quebrar tudo e de ir embora porque o tempo não importa mais. Tem um céu. Um céu muito grande, longe de todo aquele tempo e aquelas horas e minutos e segundos e badaladas e gritos e contagem regressiva.  Aliás, quanto tempo será que falta pra viver? Aí tem umas pedrinhas do meu lado e um céu muito imenso pra mim. Tem uma piscina do meu lado, mas acho que eu vou me afogar mesmo são nessas nuvens vermelhas. Muita nuvem vermelha aqui. Nunca fui boa pra contar estrelas, mas vou começar a contar as nuvens. Uma, duas, três, quatro. Peraí, aquela ali mistura com uma, que mistura com a outra, que some de um lado perto da lua. E tem sangue pra todo lado, porque eu quebrei os relógios e tá todo mundo sangrando nessa casa.  E de repente não tem mais nenhuma nuvem, porque elas desceram e tem sangue pra todo lado. Começa a chover e eu posso chorar. Espera, não dá nem pra chorar mais. Cadê a água? Tinha água aqui. Sei não, mas agora virou dia. E tem várias pedrinhas do meu lado, e eu fico pensando por que eu não posso ser uma pedrinha. Eu me acho tão grande, mas quando eu olho pro céu eu sou uma formiga. Imagina uma pedrinha. Uma pedrinha perto do céu: nada. Um monte de nada. Por que eu não posso ser nada? Acho que nada é demais pra mim e eu não sobrevivo mais com essas badaladas dos relógios que morreram até alguém enterrar eles dentro de mim. Tem umas luzinhas de natal que eu odeio que ficam piscando na sala. Eu odeio tantas luzes, isso confunde meus olhos. Uma pedrinha. Pra quê olhos? Uma pedrinha não tem olhos. Eu arranho um coração no chão com a pedrinha. Eu vou arrancar o meu coração e mostrar pra todo mundo que eu tenho um, que ele tá aqui, ele tá batendo, mas alguém tira isso de mim porque agora parece que eu não tenho mais, e justamente porque parece que eu não tenho que tá doendo tanto o vazio de não ter nada. Uma pedrinha. Eu sou uma pedra e não tenho coração. Eu virei pedra no meio de pedras que são geladas. Mas ainda tem nuvem com cor de sangue. E ninguém sabe, porque esse é meu pedaço do mundo que ninguém vê, porque são todos pedras. E pedras não têm olhos. Aí eu posso conversar com as pedrinhas desde que elas não me achem grande demais pra esmagar elas, porque elas são pequeninhas,  mas são duras. Você olha e pensa: “ah, só uma pedrinha”. Mas é forte, plena, pequena e discreta. Vai tacar uma pedrinha no olho de um, vai. Acho que sou uma pedrinha. E o meu coração? Ah, meu coração ficou ali no meio das nuvens. Só que elas foram embora e agora tô sentindo um vazio enorme. É claro que pedra não tem que ter coração, mas é que ele bate ritmado como os relógios aqui de casa, e agora eu tô ficando surda. Mas pedra tem ouvido? Ah, sei lá. Deito no chão da cozinha que é gelado como pedra e me pergunto quando será que isso tudo vai acabar. E eu me sinto quentinha com o frio porque eu cansei de esperar amor dos outros, e agora eu vou ficar por aqui, fugindo e indo embora, pro chão da cozinha. Porque ele não fala e eu só quero alguém que me escute. A gente escuta tanto o que não quer, sente tanto o que não quer,  que depois de ficar com o coração na mão tantas vezes, acaba entregando ele pras nuvens de sangue. E os outros esperam tanto de mim pra brilhar como estrela e eu sou só uma pedrinha. Nem adianta jogar pedra. Nem dói mais. Nem dói menos. Não dói mais. Não sinto mais nada. Eu sou só uma pedrinha querendo ver o céu. Mas voar dói demais e eu vou ficar mais uns minutos deitada no chão da cozinha. 5, 10, 15, 20 minutos. Os relógios ficam fazendo barulho e eu não sei quanto tempo se passou. Eu perdi os meus ouvidos. Os sentidos. Eu não enlouqueci. Eu sou só uma pedrinha. E eu fico nervosa demais por ser pedra que acabo esquecendo as vírgulas e coloco ponto final demais em tudo porque pedra não sente mas sabe machucar quem tentou esmagar uma com as próprias mãos. Já é dia agora.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Teto



Olho pro teto e olho de novo. Tem um ventilador ligado e uma moldura engraçadinha que fecha toda a paz de espírito nesse quarto e me deixa com falta de ar e fobia de ficar aqui. Eu tenho fobia de estar muito tempo perto de mim e de me engolir. Tenho medo da musiquinha que toca porque é mais uma daquelas histórias que eu não posso mais contar. Porque dizer alguma coisa nunca mais vai ser como dizer alguma coisa. Eu deslizava por aí e arrancaram meus pés. Agora eu tô olhando pro teto e tem 3 livros perto de mim, mas eu não pego nenhum porque dizer é muito mais do que assimilar. Assimilar é acumular. E eu não aguento assimilar ou dizer mais nada porque parece que tem um peso de 10 cérebros esmagando o meu crânio e mesmo assim eu não consigo raciocinar direito. O meu único medo é acabar velhinha naquelas clínicas pra gente louca, jogando baralho. E eu não entendo esse negócio de vida toda. Pra toda vida, vida toda. Mas a eternidade não dura nem um segundo, o que é essa coisa de pra vida toda? Eu tento e tento e tendo e tendo, e tendo mais nada, só mais uma tendência de não querer conseguir mais nada. Sei lá, chega de vencer. Pra vida toda. O que que é isso?  Sei lá. Acho que vai abrir um buraco dentro do meu travesseiro e eu vou morar lá dentro, porque vai chover agora mesmo sem chover. E vai fazer um puta de um sol, mesmo sendo noite. Porque nada é impossível dentro do meu buraco no travesseiro. E eu escrevo sem pensar direito no que eu tô escrevendo, porque o que a gente sente é muito mais do que a gente pensa que é. Eu sou o clichê ao contrário, a extraterrestre que subiu na neve de um ser humano fantasiando ser normal. Eu sou as frestas da porta que sobraram pra respirar e mais um espacinho entre as molduras do teto. Eu sou 3 livros e 4 horas da manhã e mais nada pra dizer. Eu sou aquela felicidade de olhar pra você e sentir que nada no mundo pode me acontecer porque na verdade o mundo todo acontece o tempo todo. Eu sou a tristeza de sorrir com os braços quando os meus ficam em volta dos de alguém porque não sobrou espaço pra mais nada. Eu sou o sentimento puro e a extremista mais extrema e recordista das maratonas dos últimos tempos. Eu sou a liberdade querendo um pouco de prisão e fobia porque o ar fresco também cansa e sufoca. Eu sou aquela última palavra que você deu pra mim naquela noite mesmo sem dizer nada e tapou os meus olhos, porque na verdade você queria me entender, só que não queria me olhar. Porque vai ver eu sou um mistério e não uma pessoa. Eu sou só mais um monte de coisa cheia de coisas que não sou. Eu sou o sentimento bom que ficou sobrando de um sentimento ruim. Eu sou mais um daqueles carros sem freio que tem sempre alguém tentando parar e dizer que ultrapassou o sinal. Eu sou sempre o quebra-cabeça de mil e uma peças que as pessoas ficam tentando montar e desistem porque tem sempre a última peça que eu guardo dentro de mim em silêncio pra ninguém descobrir. E eu tô cansada de sentir porque esse sentimento de olhar pro teto sem sentimento é o maior sentimento de todos e não deixa espaço nem pro vazio.


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Gotas de silêncio


Ando devagar, sem precisão. Sinto que aos poucos meus pés vão embolar e voar junto com as aves que eu ainda consigo ouvir o canto, apesar de bem distante agora. Algumas gotas da chuva caem em mim, mas elas relutam em ultrapassar a minha proteção invisível. Eu não ligo mais, me tornei impermeável. Estou brilhante e colorida, mas no fundo a chama se esvai com o vento. Não há lugar para correr. E eu nem me importo mais. Faz frio, mas sempre fez frio. Chove e venta. Batem as portas. As janelas. Eu ouço sombriamente o som das forças que querem calar a noite. As minhas palavras não tem mais força porque eu não sei gritar alto o suficiente para calar o silêncio. E eu quero ouvi-lo. Eu digo e digo e digo e digo. Mais uma vez. Rojões de palavras. Dessa vez não sai nada. Impotente. Frustrada. Sensação de que estou falando russo para alguém que só entende chinês. Vontade de sair correndo pra casa. Mas eu quero outra casa. Quero morar com os pássaros. Eu quero deitar e olhar pra onde eu quiser, sem hora pra ir embora. Não é nenhuma novidade a minha vontade de ficar sozinha, mas dessa vez isso superou toda a minha racionalidade. As pessoas separam razão do coração, mas isso não existe. O coração também diz. O coração tem razão. Se você quer muito estar com alguém, mas está cansado de sofrer, e vai embora por esse motivo: aí está o coração. Ele mora nos nossos impulsos e reflexos inexplicáveis. O que a gente diz ou não diz. Aquilo que a gente diz sem dizer. Aquilo que a gente faz sem querer. Aquilo que a gente quer sem fazer. O coração tem razões que a própria razão desconhece. A razão tem coração que o próprio coração desconhece. Pessoas medíocres inventaram, sabe-se Deus lá de onde, essa inútil divisão. Por que? Por que? Por que? Faz tempos que eu me me pergunto os motivos de tudo. Igual uma criança pequena mesmo."Mãe, por que o céu é azul?. Só que eles não existem, é tudo ilusão, fruto da nossa mente. As coisas são o que elas são. Meu maior problema é querer entender. Eu sempre aceito, mas não entendo. Eu só não aceito quando eu não entendo. Eu sou complicada, mas eu não complico as coisas. As pessoas que não param pra pensar com o coração. Só se vê bem com o coração? Pois eu ainda acrescento: só se pensa bem com o coração. Ou não. Por que é que a gente pensa? De novo eu com meus porquês. Eu quero alguém que me dê respostas, mas você não as tem. Eu também não as tenho. Não me olhe com esses olhos. Não me peça pra olhar pra você. Eu não tenho força nas minhas palavras mais, eu não tenho força nos meus pés, mas eu tenho força nos olhos. Tanta coisa vista, e dessa vez eu vejo você dar meia volta e se tornar um incrível besta disfarçado de bom moço. Desconstrução. Estou cansada de desconstruir ideias. Eu mudo e me pergunto por que. Eu vou embora e me pergunto por que. Eu não sei. Existe algo em mim que me fala qual a decisão que eu tenho que tomar. E não é que eu tenha certeza do que digo: eu apenas quero ter certeza. Quero fingir que encontrei as respostas, porque na verdade, eu sei que as respostas não existem. E eu vou correr atrás delas, mesmo sabendo que vou acabar encontrando mais perguntas. Por que? Mais uma vez, não sei. Eu só vejo e observo. Observando a gente esquece de quem a gente é. A gente só é mais alguém num emaranhado de rostos que não possuem foco ou sentido. Observando a gente aprende que somos menos do que somos. Eu me sufoquei com as coisas que não consegui dizer. Eu me sufoco com as coisas que eu digo que só se tornaram mais uma de minhas estranhas observações. Eu sou diferente. Deve ser isso, eu aceito que existe muito de mim em apenas uma pessoa. Eu tento deixar pedaços meus por aí, mas eles sempre encontram o caminho de volta. E eu não entendo. É o caminho das perguntas, eu disse. Só que dessa vez eu quero silêncio. O silêncio de quem está perplexo na sua perplexidade. Um minuto de silêncio pra mim. Eu mereço silêncio para ouvi-lo.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Sombras



2:18. Tic-tac. Tic-tac.
Um lápis, um papel, um trabalho
Tudo funciona melhor nesse horário
Só não me faça pegar um café e lhe assistir
Eu jamais poderia prosseguir
Porque dentre todas essas granadas
Ainda prefiro as minhas mil palavras.

Esses absurdos envoltos na madrugada
Não são nada
Não são nada
Comparados ao tremendo desassosego
que eu perdi debaixo do meu travesseiro
2:22. Tic tac. Tic tac.
E ainda parecemos máquinas

Se vocêr quer saber de algo, vou lhe dizer
Nossas sombras funcionam melhor no escuro
E no silêncio: é aí que elas moram
A casa que elas habitam não é nada menos, nada mais
Do que a total retirada da minha paz
Pois é na falta de som, na falta de luz,
Que somos o que somos, sem véus ou capas
Sem dilemas ou muralhas

No inverso das sombras também mora a luz
Não somos pedaços, fragmentos
Somos um resultado
O que construímos, demolimos ou assistimos
É na calada da noite que as palavras ecoam nas paredes
Os gritos retinam e ressoam, mas ninguém pode ouvi-los

A luz mora nos impiedosos lares
Nos equívocos de todos os dias
Afinal, o escuro só existe no brilho
Se a luz é um conjunto das sombras
Para brilhar é preciso florescer
O escuro não pode morrer!

2:35.O meu trabalho continua em branco
Mas na minha cabeça moram todos os pensamentos
E todos os sonhos do mundo
Enquanto os minutos passam
Guardo comigo a certeza de que
Todas as palavras do mundo
Ainda são pouco pro que eu quero dizer!


sábado, 4 de fevereiro de 2012

Falta de sorte



Não sei exatamente o quê ou por que, mas você tem aquela coisa que me faz transbordar de tanto sentir, falar e brigar, e sorrir e chorar e deixar de lado, tudo ao mesmo tempo. Você tem alguma coisa. Alguma coisa que me faz parecer que eu gostava do absurdo irônico que é ser idiota. É sim, você tem alguma coisa que me faz querer ser tonta, cega e surda todos os dias. Aliás, até porque ver seu olhar abismado cheio de mistério e esse seu riso rouco me faz chegar ao ápice de pensar que vale realmente a pena ser assim, tão louca de imbecilidade. Por essa vida, por tudo. Estranho o fato que eu abraçava você pensando que estava abraçando o mundo, porque um pedacinho que fosse de você se encaixava perfeitamente no meu. Porque esse seu ego enorme, sua lucidez e até mesmo a sua sinceridade deixavam um pouco intenso esse meu dia-a-dia conturbado. Te agradeço, também. Assim mesmo (leia isso nas entrelinhas)- você despertou em mim uma vontade absurda de querer desvendar tudo e todos e provar que eu posso mais, porque eu nunca pensei que fosse capaz de tão mais. E eu fui. Fui longe mesmo. E eu quero ir tão longe ainda. Pena que tenha que ser longe de você. Pena que depois eu não possa te contar e rir com você no fim do dia sobre a nossa louca falta de sorte. Eu só queria que você soubesse que eu joguei tudo pro alto por puro medo do seu sorriso me tirar do meu lugar. Mas hoje eu percebo, assumindo as conseqüências que isso tudo me trouxe, que a minha louca falta de sorte não era nada mais do que o desejo (que só agora eu sei que existe) de ficar um pouquinho mais que fosse do seu lado. Eu nunca te contei, mas a sua intensidade tirou a monotonia de mim. E hoje eu voltei a ser intensa. E um maltrapilho de questionamentos e confusões, não nego. Mas eu não posso mais deixar você ocupar esse espaço tão maluco na minha vida, porque falando sério, tenho medo de juntar a sua intensidade com a minha e voltar a querer ter aquela louca falta de sorte que era estar ao seu lado... ( você deve estar feliz, eu espero que você esteja. Deixa eu ver esse sorriso mesmo de longe, porque assim eu me sinto mais perto...)

“O rosto dele próximo do meu. Mais adivinho do que vejo o castanho dos olhos deslizando pelas órbitas. A sua mão toca no meu ombro, sobe pelo pescoço, me alcança a face, brinca com a orelha, alcança os cabelos. O seu corpo cola-se ao meu. A sua boca vem baixando devagar, vencendo barreiras, colando-se à minha, de leve, tão de leve que receio um movimento, um suspiro, um gesto, mesmo um pensamento. Estou em branco como a noite. Ele me abraça. Ele está perto.”(só porque essa aqui me lembra uma noite muito louca...)