Olho pro teto e olho de novo. Tem um ventilador ligado e uma
moldura engraçadinha que fecha toda a paz de espírito nesse quarto e me deixa
com falta de ar e fobia de ficar aqui. Eu tenho fobia de estar muito tempo
perto de mim e de me engolir. Tenho medo da musiquinha que toca porque é mais
uma daquelas histórias que eu não posso mais contar. Porque dizer alguma coisa
nunca mais vai ser como dizer alguma coisa. Eu deslizava por aí e arrancaram
meus pés. Agora eu tô olhando pro teto e tem 3 livros perto de mim, mas eu não
pego nenhum porque dizer é muito mais do que assimilar. Assimilar é acumular. E
eu não aguento assimilar ou dizer mais nada porque parece que tem um peso de 10
cérebros esmagando o meu crânio e mesmo assim eu não consigo raciocinar
direito. O meu único medo é acabar velhinha naquelas clínicas pra gente louca,
jogando baralho. E eu não entendo esse negócio de vida toda. Pra toda vida,
vida toda. Mas a eternidade não dura nem um segundo, o que é essa coisa de pra
vida toda? Eu tento e tento e tendo e tendo, e tendo mais nada, só mais uma
tendência de não querer conseguir mais nada. Sei lá, chega de vencer. Pra vida toda.
O que que é isso? Sei lá. Acho que vai
abrir um buraco dentro do meu travesseiro e eu vou morar lá dentro, porque vai
chover agora mesmo sem chover. E vai fazer um puta de um sol, mesmo sendo
noite. Porque nada é impossível dentro do meu buraco no travesseiro. E eu
escrevo sem pensar direito no que eu tô escrevendo, porque o que a gente sente
é muito mais do que a gente pensa que é. Eu sou o clichê ao contrário, a
extraterrestre que subiu na neve de um ser humano fantasiando ser normal. Eu
sou as frestas da porta que sobraram pra respirar e mais um espacinho entre as
molduras do teto. Eu sou 3 livros e 4 horas da manhã e mais nada pra dizer. Eu
sou aquela felicidade de olhar pra você e sentir que nada no mundo pode me
acontecer porque na verdade o mundo todo acontece o tempo todo. Eu sou a
tristeza de sorrir com os braços quando os meus ficam em volta dos de alguém
porque não sobrou espaço pra mais nada. Eu sou o sentimento puro e a extremista
mais extrema e recordista das maratonas dos últimos tempos. Eu sou a liberdade
querendo um pouco de prisão e fobia porque o ar fresco também cansa e sufoca.
Eu sou aquela última palavra que você deu pra mim naquela noite mesmo sem dizer
nada e tapou os meus olhos, porque na verdade você queria me entender, só que
não queria me olhar. Porque vai ver eu sou um mistério e não uma pessoa. Eu sou
só mais um monte de coisa cheia de coisas que não sou. Eu sou o sentimento bom
que ficou sobrando de um sentimento ruim. Eu sou mais um daqueles carros sem
freio que tem sempre alguém tentando parar e dizer que ultrapassou o sinal. Eu
sou sempre o quebra-cabeça de mil e uma peças que as pessoas ficam tentando
montar e desistem porque tem sempre a última peça que eu guardo dentro de mim
em silêncio pra ninguém descobrir. E eu tô cansada de sentir porque esse
sentimento de olhar pro teto sem sentimento é o maior sentimento de todos e não
deixa espaço nem pro vazio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário