Hoje, olhando pela janela em mais um dia claro, me dou conta
de que tudo vai sumir. Esse sol vai sumir, mas não o sol: o que vai desaparecer
é o brilho que emana hoje, diferente de ontem e diferente dos raios de luz de
amanhã. Tudo virará pó, porque o que
existe no hoje, aqui nele se perde. Eu também sumirei, porque amanhã nem eu sou
mais o que hoje me parece: já terei ouvido novas palavras, visto coisas novas e
sentido diferente. Amanhã sou outra, mesmo vestindo-me com as mesmas roupas. O
outro dia não nos permite ser o que já fomos. A história pode possuir os mesmos
roteiros, mas nunca os mesmos personagens. Nós nunca somos nós: somos vários que não somos amanhã. Somos vários que só vivem 24 horas. Como pássaros que chegam
e vão. Eu vou sumir. Você também. Talvez um dia eu vire tu e tu me vires: quem sabe do avesso, de cabeça pra baixo.
Quem sabe por inteiro, talvez por metade. Tenho medo de piscar e perder um detalhe
que nunca voltará atrás ou à frente,
medo de parar no tempo e para o tempo parar. Tudo some e reaparece, mas
nunca permanece. E estou assustada de
perder um momento, como se a resposta pudesse escorregar de minha mão. Nada é
real. Nessa manhã as coisas pairaram no ar como uma neblina espessa que mal
deixa espaço pra se respirar. Isso também vai sumir. Os cheiros, as cores. Tudo
é igual, mas nunca é. E está tão perto que quase posso tocar. Tão longe que
quase posso fugir.
“Um homem nunca passa duas vezes pelo mesmo rio. Nunca é o mesmo rio. Nem o mesmo homem” Heráclito
“Um homem nunca passa duas vezes pelo mesmo rio. Nunca é o mesmo rio. Nem o mesmo homem” Heráclito
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