sexta-feira, 29 de junho de 2012

Sombras



2:18. Tic-tac. Tic-tac.
Um lápis, um papel, um trabalho
Tudo funciona melhor nesse horário
Só não me faça pegar um café e lhe assistir
Eu jamais poderia prosseguir
Porque dentre todas essas granadas
Ainda prefiro as minhas mil palavras.

Esses absurdos envoltos na madrugada
Não são nada
Não são nada
Comparados ao tremendo desassosego
que eu perdi debaixo do meu travesseiro
2:22. Tic tac. Tic tac.
E ainda parecemos máquinas

Se vocêr quer saber de algo, vou lhe dizer
Nossas sombras funcionam melhor no escuro
E no silêncio: é aí que elas moram
A casa que elas habitam não é nada menos, nada mais
Do que a total retirada da minha paz
Pois é na falta de som, na falta de luz,
Que somos o que somos, sem véus ou capas
Sem dilemas ou muralhas

No inverso das sombras também mora a luz
Não somos pedaços, fragmentos
Somos um resultado
O que construímos, demolimos ou assistimos
É na calada da noite que as palavras ecoam nas paredes
Os gritos retinam e ressoam, mas ninguém pode ouvi-los

A luz mora nos impiedosos lares
Nos equívocos de todos os dias
Afinal, o escuro só existe no brilho
Se a luz é um conjunto das sombras
Para brilhar é preciso florescer
O escuro não pode morrer!

2:35.O meu trabalho continua em branco
Mas na minha cabeça moram todos os pensamentos
E todos os sonhos do mundo
Enquanto os minutos passam
Guardo comigo a certeza de que
Todas as palavras do mundo
Ainda são pouco pro que eu quero dizer!


sábado, 4 de fevereiro de 2012

Falta de sorte



Não sei exatamente o quê ou por que, mas você tem aquela coisa que me faz transbordar de tanto sentir, falar e brigar, e sorrir e chorar e deixar de lado, tudo ao mesmo tempo. Você tem alguma coisa. Alguma coisa que me faz parecer que eu gostava do absurdo irônico que é ser idiota. É sim, você tem alguma coisa que me faz querer ser tonta, cega e surda todos os dias. Aliás, até porque ver seu olhar abismado cheio de mistério e esse seu riso rouco me faz chegar ao ápice de pensar que vale realmente a pena ser assim, tão louca de imbecilidade. Por essa vida, por tudo. Estranho o fato que eu abraçava você pensando que estava abraçando o mundo, porque um pedacinho que fosse de você se encaixava perfeitamente no meu. Porque esse seu ego enorme, sua lucidez e até mesmo a sua sinceridade deixavam um pouco intenso esse meu dia-a-dia conturbado. Te agradeço, também. Assim mesmo (leia isso nas entrelinhas)- você despertou em mim uma vontade absurda de querer desvendar tudo e todos e provar que eu posso mais, porque eu nunca pensei que fosse capaz de tão mais. E eu fui. Fui longe mesmo. E eu quero ir tão longe ainda. Pena que tenha que ser longe de você. Pena que depois eu não possa te contar e rir com você no fim do dia sobre a nossa louca falta de sorte. Eu só queria que você soubesse que eu joguei tudo pro alto por puro medo do seu sorriso me tirar do meu lugar. Mas hoje eu percebo, assumindo as conseqüências que isso tudo me trouxe, que a minha louca falta de sorte não era nada mais do que o desejo (que só agora eu sei que existe) de ficar um pouquinho mais que fosse do seu lado. Eu nunca te contei, mas a sua intensidade tirou a monotonia de mim. E hoje eu voltei a ser intensa. E um maltrapilho de questionamentos e confusões, não nego. Mas eu não posso mais deixar você ocupar esse espaço tão maluco na minha vida, porque falando sério, tenho medo de juntar a sua intensidade com a minha e voltar a querer ter aquela louca falta de sorte que era estar ao seu lado... ( você deve estar feliz, eu espero que você esteja. Deixa eu ver esse sorriso mesmo de longe, porque assim eu me sinto mais perto...)

“O rosto dele próximo do meu. Mais adivinho do que vejo o castanho dos olhos deslizando pelas órbitas. A sua mão toca no meu ombro, sobe pelo pescoço, me alcança a face, brinca com a orelha, alcança os cabelos. O seu corpo cola-se ao meu. A sua boca vem baixando devagar, vencendo barreiras, colando-se à minha, de leve, tão de leve que receio um movimento, um suspiro, um gesto, mesmo um pensamento. Estou em branco como a noite. Ele me abraça. Ele está perto.”(só porque essa aqui me lembra uma noite muito louca...)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Quando a realidade pede uma trégua (uma história qualquer)


O relógio marca 22 horas. Pego aquele velho relógio que ela me deu no dia do meu aniversário há 2 anos atrás. Estou atrasado. Com meu GPS na mão, vou pro carro pra finalmente tentar encontrar o local da festa. É a minha formatura. Depois de dobrar em muitas esquinas erradas, finalmente chego. Tudo muito bonito, fica difícil até para uma pessoa como eu, desligada, não reparar nos detalhes.
Poso para algumas fotos com uns velhos amigos. Muita coisa mudou, outras continuam sempre as mesmas. O Jorge continua usando a mesma gravata verde-limão que o avô deixou pra ele antes de morrer, e olha que já faz uns bons anos. O Felipe mantém os mesmos sapatos de todas essas ocasiões especiais. E eu, bem, esse relógio de couro que uso, um pouco descascado, foi ela que me deu. No tempo em que eu ainda pensava que ela era minha. Falando nela...
-Matheus, seu imbecil! Deixou o carro aberto de novo, me dá aqui essas chaves. - disse rindo, se apressando para pegar as chaves do meu bolso e me dando um beijo na bochecha.
Ela ainda me deixa sempre bobo desse jeito, incrível. Está linda, ainda mais vestida de preto. Mesmo tentando ser discreta ela nunca passa despercebida. O único problema é que sou eu que tenho que disfarçar minha cara de surpreso toda vez que ela aparece desse jeito.
-Vou pegar uns drinques para nós! –Jorge falou dando um aceno com aquela cara de pretensioso tentando não tirar uma com a minha cara pelo menos uma vez nesses últimos anos.
Ana volta com as chaves, me jogando bem rápido sua bolsa e pedindo pra eu colocar na nossa mesa que ela já voltava.
Uma hora ou duas depois (eu já mais pra lá do que pra cá...) vou procurá-la. É um hábito: nunca consegui me acostumar a perdê-la de vista. Apesar disso já ter acontecido umas boas vezes, quando ela arrumou uns namorados. Mas não há nenhum cara em volta dela hoje.
-Ana, você sumiu, esqueci de te falar como você tá linda! (não consegui controlar)
-Que novidade, Matt, você sempre diz a mesma coisa.
Ela está descalça. É tão engraçado como ela não consegue ficar até o fim da festa de salto, e eu a adoro por isso. E por tudo. Por ser tão “não estou nem aí se estão olhando”. Que nem daquela vez que ela saiu do banheiro do restaurante que a gente tinha ido num feriado e eu tive que avisá-la que ela estava com papel higiênico na sandália. Ela riu, fez aquela cara de sonsa que só ela sabe fazer, e disse ‘Oras, você esperava que eu estivesse com o que?’

Então, antes que eu pudesse ao menos pensar, ela me pega e começa a dançar uma valsa comigo, tentando fazer uma cara séria enquanto piscam vários flashes daqueles fotógrafos para nós.
Enquanto ela encosta a cabeça em meu ombro sinto o cheiro do perfume que ela usa. Eu mesmo comprei, no seu aniversário de 18 anos, naquele dia que ela fez cara de criança recebendo doce, dizendo que eu era o melhor amigo que ela já teve (ela falava nesse perfume tinha uns 6 meses). E olha que Ana só me disse isso 2 vezes na vida: a outra foi num dia que estava caindo um temporal. Ela tinha terminado com o namorado e estava parada num ponto de ônibus com um guarda-chuva na mão lá perto de casa. É claro que eu fui buscá-la. E ainda aluguei vários filmes pra gente ver. Diferente de todas as mulheres que conheço, ela não deitou no meu colo e ficou chorando, muito pelo contrário, desceu o pau nele. Nunca foi muito de demonstrar as emoções, se é que me entende, mas eu sabia que ela estava chateada. Ana... sempre usando a raiva pra disfarçar todo o resto.

-Matt, deixa eu ajeitar a sua gravata.
-Você sempre faz isso, mulher.
-Não se pode perder os costumes! –disse com aquele sorriso de ponta a ponta que eu tanto amava e pegando mais um drink. Ela não sabia mesmo parar. Pena que sou suspeito pra dizer isso a ela.

O que ela não sabe é que eu preservo a nossa amizade por puro medo de perdê-la de vista. Porque eu sei que amanhã ela vai aparecer com outra pessoa, me ligando e contando como ele é. E eu escuto. Eu agüento. Porque mesmo sabendo que ela não gosta de mim desse jeito, eu gosto dela mesmo assim. E é melhor que nada.
Uma vez ela estava tão brava comigo por eu ter falado umas boas verdades pro pior namorado que ela já teve em uma festa de fim de ano, que quebrou uma taça cheia de vinho bem perto da minha cabeça. Ela é louca, sim. E manchou toda a minha camisa nova, mas tudo que eu sabia dizer era “deixa eu olhar pra você”.

Já é fim de festa e estamos dançando a umas boas horas. Perdemos a noção de tudo. Tenho idéia das fotos que veremos depois. E as que eu tenho certeza que ela vai revelar e me dar de presente (sempre as piores). Deus, Ana é tão previsível!
Então, inesperadamente, quando digo a ela que não estou me sentindo bem e que acho que vou pra casa, ela pega a minha mão e chega bem perto. Olha nos meus olhos e me beija. Me pega assim, tão desprevenido. O mundo para por alguns segundos. Coitado de mim, seria zoado o resto da vida pelos meus amigos se pudessem ler meus pensamentos.
Quando abro os olhos, está louca da vida rindo. E ainda diz, com o mesmo sorriso: ‘Bom, dessa vez eu não vou embora sem você. Vamos, eu te deixo em casa!.”
E meio que tropeçando, fomos pro carro. Ela liga o rádio e está tocando a música que sempre cantamos juntos. Mas é claro que eu não estou em condição alguma de cantar ou mesmo de me lembrar o nome da música. Ana canta mesmo assim, com o cabelo voando no rosto. Me deixa na porta de casa sem dizer nada, mas quando estou quase entrando, ela assovia, dá uma piscada e diz: “Ei, eu te amo!”

Deito na cama. São 5:19. Acho que era esse o nome da música. É claro que estou com medo dela não se lembrar amanhã. Ou de se fingir de desentendida, pra variar. Mas quem liga pra isso? Eu gosto mesmo é de olhar pra ela.....

sábado, 22 de maio de 2010

Cicatrizes.



Pensemos em um papel, rabisque algo bem forte sobre ele. Agora apague com uma borracha. Por mais que você tente, sempre ficarão algumas marcas. Quanto mais forte for o rabisco, mas difícil de apagar. Sim você pode escrever algumas coisas por cima, mas você sempre vai notar aquele fundo de rabisco que você foi incapaz de corrigir. Assim são a vida, as pessoas. Tudo que você fizer de concreto nunca deixará de existir sobre o papel. Assim reconstituo lembranças. O tempo pode amenizá-las, mas nunca apagá-las quando forem muito dolorosas ou marcantes.
Sinto sua falta. Sinto falta do grande rabisco que eu construí, como se fosse a nossa história. Também me lamento se o rabisco que você construiu foi menor do que o meu. Me lamento se você conseguiu apága-lo com tanta facilidade e eu ainda estou aqui, tentando desmanchá-lo. Mas eu sei, ou pelo menos tento acreditar que sei que, por menor que seja o seu rabisco, você ainda pode vê-lo. Assim eu espero, que você não apague tudo de uma vez. Você tem certeza do que realmente está fazendo? Você acha que rabiscando por cima do nosso grande rabisco vai conseguir me fazer ver que ele sumiu, ou simplesmente está tentando se enganar buscando um jeito de esquecer que ele ainda está ali? Pare e pense um pouco. Rabiscos podem ser histórias do mesmo jeito que simples marcas no papel podem ser cicatrizes. Cicatriz. Algo que permanece ali, como uma simples marca no papel, sempre te lembrando que ou você busca formas de escrever por cima delas, ou você se rende e nunca mais escreve.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Uma pequena canção que fiz pra você.






Tudo que eu queria te dizer


Você nunca ia entender
São tantas coisas que eu queria te dizer.

O seu olhar, seu jeito doce, seu sorriso, a sua voz.
O seu perfume, tente pensar em nós.

Se eu pudesse te lembrar, você iria era voltar
Eu te amo, como posso demonstrar?

Conheci tantas pessoas com seu jeito de ser..
Infelizmente todas me lembram você.

Do seu olhar, seu jeito doce, seu sorriso, a sua voz.
O seu perfume, tente pensar em nós.

Quando disse que te amava, isso era verdade
Ah que pena, cê só trouxe saudade.

Ainda tenho esperança de que irá voltar
Aí quem sabe eu podia te mostrar...

O seu olhar, seu jeito doce, o seu sorriso, a sua voz.
O seu perfume, tente pensar em nós.

(2010)