Ainda juntando os cacos. (minha visão anda melhorando)
"A verdade? É uma coisa exterior? Não posso ter a certeza dela, porque não é uma sensação minha, e eu só destas tenho certeza." Fernando Pessoa
terça-feira, 23 de julho de 2013
Sobre vender a alma ao diabo (últimas semanas)
Acho que é a primeira vez em muitos dias que eu escrevo com
a porta aberta e as luzes acesas. Pra falar a verdade isso não faz muito
diferença, é só um detalhe, mas como é de detalhes que se vive, achei legal
começar o texto assim. Pra falar a verdade, não. Tenho grandes dificuldades em
me decidir, em começar, em recomeçar, em todas essas coisas que exigem um
grande ar, grande fôlego, grande motivação. Eu sou a pessoa mais exagerada do
mundo e mesmo assim eu detesto esses exageros que todo mundo faz questão que a
gente tenha pra sair do mesmo lugar. Chega um momento na vida em que ninguém
consegue mais ficar deitado na cama olhando pro teto. Nem que seja morrer, nem
que seja enlouquecer, mas ficar ali não. É claro que nem todos se levantam, mas
ninguém gosta de ficar ali, preso, estancado, vendo todo mundo seguir suas
vidas, e você, parado no tempo, olhando pro nada, sentindo o nada, vivendo o
nada. O nada é grande demais pra ser nada. O nada é muita coisa. O nada não deixa
nem a gente chorar em paz. É o inferno. As pessoas acham que o nada não existe,
mas o nada possui cor e forma e cheiro e som. O nada é um monte de espíritos
ruins vagando pela sua cama, pela sua mente, pelo seu coração. O nada é só o
que rodeia o próprio nada. É aquilo que a gente não consegue definir e sentir e
explicar pra alguém e por isso vai ficando tão difícil abrir a boca pra sair
alguma palavra. O nada rouba a voz. O sossego. É por isso que eu sempre disse
em alto e bom som pra todo mundo que quisesse ouvir que entre o nada e a
tristeza, eu ainda prefiro a boa e velha amiga que eu aprendi a chamar de
tristeza. Ela é desoladora, mas fiel, sabe rir de si mesma. É um quebra-cabeça
de 5, 10 peças. Ficar triste é quase como ser feliz. É simples. Agora tente
sair do nada, se livrar do nada. É a mesma coisa que tentar montar um
quebra-cabeça com peças que não existem. Pior do que isso, é montar o
quebra-cabeça inteiro e no final descobrir que a caixa veio com uma peça
faltando. É ruim, frustrante, é todo um esforço desperdiçado em cima de uma
coisa que não tem olhos, boca, ouvidos. Como sentir uma dor dilacerante no
peito e não saber quem enfiou a faca. É olhar e não ver um criminoso. É ter um
saco de moedas de ouro roubado e não ter pra quem denunciar. Porque o culpado é você mesmo. É esse nada
que vira tudo e te arrasta junto pra um buraco que não existe e que é maior que
o universo. Dá vontade de chorar, mas o nada é como um pai maldito e
autoritário que te manda calar a boca. O nada não te dá opção: ele te rouba e
vira você. E aí não adianta gritar, espernear, mostrar o dedo do meio pro
mundo, se culpar, culpar os outros, odiar você, odiar a si mesmo, sentir ódio
da vida. Nada disso é permitido porque tudo isso seria muito menos do que é. O
nada te anula até você virar nada. Você é anulado por uma força infinitamente
maior do que você e mesmo assim, tão pequena que não tem nem nome. É uma
difusão de dois mundos que não podem ser tocados com a palma das mãos. É quase
como vender a alma ao diabo. É isso, você vende sua alma a troco de não sentir
nada, não pensar em nada, não ouvir nada, não dizer nada. Você morre e nem é
velado pra descansar em paz. E as pessoas nem te olham mais. O olhar delas não
chega a você porque você não existe mais. E todo mundo espera que você faça
algo, que você se mexa, saia do lugar, busque ajuda, mas você não existe mais.
É o grande nada que você se tornou. E como dizer isso pras pessoas? Não há o
que ser dito. Quando tentei falar, não reconheci minha voz. Quando tentei
chorar, as lágrimas não eram minhas. Tudo tinha sumido pra um lugar tão fora do
meu corpo que eu fiquei sem saber onde eu tinha ido parar. O corpo fica, um
corpo meio morto, acabado, triste, longe, vazio, oco. E a alma vai embora.
Tinha sido vendida. É difícil de explicar e as pessoas discriminam muito. Nem
se eu colocasse aqui em mil palavras seria compreensível a alguém que nunca
viveu algo semelhante. Alguém que nunca vivenciou a força avassaladora que te
leva pra longe de você mesmo. E começar a achar que você não precisa ser salvo
porque tanto faz estar vivo ou estar morto. Mas todos nós merecemos salvação.
Todos precisamos ser resgatados desse devaneio. Um conselho que eu lhe dou: não
venda a sua alma ao diabo. Mas se você vender, talvez dê sorte de anjos virem a
seu socorro. E eu achando que nunca tinha tido sorte.
Ainda juntando os cacos. (minha visão anda melhorando)
Ainda juntando os cacos. (minha visão anda melhorando)
quarta-feira, 17 de julho de 2013
O amor é um cão dos diabos
3 minutos
Leva tempo demais qualquer coisa
Nessa casa em que os relógios não param um segundo
Faz meses que eu estou esperando
E nem fez frio hoje
O amor é um cão dos diabos, Charles
O amor dura 3 minutos
Martelando nos meus ouvidos bem alto
Tudo aquilo que eu não soube dizer
O amor é um cão imundo que deita conosco
E suas presas sorrateiras se arrastam
Em ruídos ranzinzas pelo escuro
Nessa casa em que os relógios não param
Mais 3 minutos e o que mais?
Mais nada
O amor é um cão dos diabos
que nos enrosca, nos cobiça, nos maltrata
O amor é esse cão
Que se suja logo depois de estar limpo
É o cão imundo que rasteja num sorriso quase mudo
Por essa sala vazia
O amor é um cão dos diabos
Que cheio de pulgas se coça
Expondo a pele cheia de rasgos e de feiuras
Só mais 3 minutos
Basta esperar
Ele já vai embora
O amor é um cão dos diabos
Que nos alegra com a sua existência maravilhosa
E morre antes de nos darmos conta
De que realmente passou por aqui
(O amor de Bukowiski tem cheiro de cigarros e gosto de noite)
sábado, 13 de julho de 2013
Louca e covarde
Tenho nojo de mundo meio inteiro, metade vazio igualmente. Tenho nojo quando passo pelas ruas e elas fedendo e gente brega. Meu Deus, como eu odeio gente brega. Tenho horror a todo mundo que passa por mim porque ninguém pode me tocar. Eles não sabem disso, o que me deixa com mais raiva ainda. E todo mundo rindo das coisas gigantescas e eu rindo aqui feliz com as minhas coisinhas. Nada é real pra mim e as pessoas não existem também, mas eu sinto tudo tão grande e brilhante ou então muito pequeno e cinza e isso é como a tortura generalizada daqueles que não podem enxergar ou ouvir. Isso é como o meu medo dos sonhos por pensar que talvez eu já esteja morrendo e ninguém pode me tirar dali. Prefiro uma noite sem sonhos, mas como viver sem sonhos? Sinto o mundo quase sempre meio morto, meio inútil, chato, ninguém tem nada a dizer, e gente brega andando na rua. E as ruas fedendo e eu com vontade de sair correndo pra um lugar que não existe. E eu querendo me invadir e não fazendo a menor ideia de como chegar dentro de mim. Vida louca vida. Eu dentro do ônibus e o mendigo ali embaixo do viaduto esfregando um pauzinho pra fazer fogo. Eu querendo comprar um fone e o moço da loja reclamando no telefone que estava triste com alguém. E ele me atendeu como as máquinas que são programadas pra dizer. E isso é como o meu medo de viver sem sonhos e meu desejo de viver sem eles. Eu vivo em um mundo só meu e ainda assim todo mundo pisa nele e faz dele o que quiser. O mundo que todos vivem é também o meu mundo, mas mesmo assim o mundo deles não é o meu. Esse mundo das pessoas que pra mim são de outro planeta porque elas são cegas e surdas e mudas e tudo o mais pro mundo que existe dentro de mim e não pra mim que existo dentro do mundo. Vida louca vida. Eu acordando cedo e um japonês lá do outro lado do mundo indo dormir. É uma vida muito curta pra eu ver todas as pessoas, sentir todos os cheiros, os gostos. É um mundo grande demais pra eu sentir com a palma da minha mão e ir a todos os lugares e conhecer todas as pessoas. É um mundo tão grande que eu deixo o sol vir e fico olhando pro moço tentando fazer fogo embaixo do viaduto. E penso no homem dizendo que estava triste e me atendendo como se eu fosse mais uma daquelas pessoas que não existem e que nunca vão entender. É um mundo só pra tanta gente no mundo. É um mundo só pra tantos mundos. É um mundo tão grande e ao mesmo tempo tão pequeno pro meu mundo. Eu me sinto um gigante em forma de miniatura e as pessoas não sabem que não podem encostar em mim. É um mundo tão grande e eu aqui deitada vendo um filme com a minha mãe. Tanta coisa acontecendo e eu sem conseguir agarrar um instante. Faltou inventarem um controle remoto de pause e replay. Maldito replay que não inventaram. É tudo muito breve pra raciocinar. É tudo lento demais pra acompanhar meu ritmo meio surtado. Mas tudo que não se expressa pra mim não existe. E daí o meu medo de sonhos e das coisas que existem. E os meus olhos imensos pra todas as pessoas e os meus olhos minúsculos pro mundo inteiro e tão real e tão vazio como eles. E eu sempre querendo fazer alguma coisa e sentada nessa cadeira escrevendo e querendo saber o que o japonês da rua tal lá de Tóquio tá fazendo agora. E eu deitada na minha cama chorando porque a gente nunca chega a conhecer ninguém direito, e eu me lamentando e odiando todos porque o amor nunca é suficiente, porque todos nossos esforços são vãos quando tem um mundo imenso lá fora. Um mundo imenso aqui dentro. Como já dizia alguém que inventei no meu cérebro mas que apesar de tudo amei muito, eu me acovardo. Sim, mundo, eu sou covarde. Mas eu prefiro ser covarde e existir. Eu prefiro ser covarde e ter dois olhos bem abertos. Eu sou covarde pra todo mundo que não suporta ler o que alguém de verdade sente. Eu sou covarde porque nesse mundo de medrosos as pessoas são tão práticas e corretas e sensatas e tão insuportavelmente chatas e eu não sou uma máquina. Eu prefiro ser covarde e louca e continuar tendo medo dos meus sonhos do que ser alguém que tem medo dos dois pés no chão. Eu prefiro ser a louca que agora mesmo não tem mais nojo do mundo e das pessoas e acha essa gente brega toda até um pouco bonitinha. Vida louca vida. Tudo é só engraçado ou triste. A beleza não existe pra mim porque ela faz parte dos sonhos e isso pra mim é como meu medo eterno de não conseguir admitir pro mundo a minha ambiguidade, a minha contradição. A minha covardia. Meu amor, eu prefiro ser covarde. Mas sou menos covarde do que alguém que diz que eu sou covarde. Sou covarde porque não sei entender o mundo, porque é meu medo dos sonhos, meu medo de viver e estar sonhando e enquanto durmo estar vivendo. É tudo estranho, engraçado, triste, é uma contradição. É covardia a gente não saber. É covardia não entender. É covardia nos doar e receber de volta que somos covardes. Eu prefiro ser louca e covarde do que não ser nada. Eu prefiro ser tudo isso que todo mundo diz que eu sou do que ser como os cegos ou surdos por opção. Eu prefiro achar as pessoas bregas e sentir carinho pelo homem que me vendeu o fone estragado, eu prefiro odiar o mundo todo e mesmo assim passar tanto tempo olhando pro mendigo tentando acender o foguinho. E é por isso que só os covardes podem me amar. Dos bons, corretos, sensatos, eu ando tentando passar longe. O mundo é imenso, a vida é louca e às vezes tudo muito sem-graça pra eu ficar me preocupando com o que era certo fazer, ter feito. O mundo é muito grande pra eu aceitar uma culpa que nem existe e muito pequeno pra eu suar frio tentando caber nele. Existe mesmo isso de certo? Existe resolver as coisas? As coisas já falam por si mesmas. Eu prefiro ser louca e covarde. Eu prefiro.
"O amor no planeta das canetas Bic que somem. O amor mais um como se pudesse ser mais um. O que você fez com ele para eu nunca fazer igual? Eu prefiro ser quem te espera na porta pra entender. Eu prefiro ser quem te espera na outra linha pra entender. Eu prefiro ser a louca do jardim enquanto o mundo ri e faz suas coisas. Do que ser quem se tranca nessas salas infinitas suas pra nunca entender ou fazer que não sente ou não poder sentir ou ser sem tempo de sentir ou ser esquecido e finalmente não ser." Tati
quarta-feira, 10 de julho de 2013
O dia em que você deixou de me amar
No dia em que
você deixou de me amar não escorreu uma
lágrima do meu rosto. Eu não chorei a minha morte em você porque já tinha
cansado de chorar a sua em mim. Eu não choro mais a minha ausência em lugar
algum porque eu não mereço uma lágrima minha. No dia em que você deixou de me
amar não escorreu uma lágrima porque nem era mais você. Nesse dia você saiu de
mim pra finalmente voltar a você. E então não era mais você porque nunca seria
mais eu. No dia que você deixou de me amar nem doeu porque você já tinha ido
embora. E eu tentei te abraçar, mas te abraçar nunca mais vai ser como te
abraçar. Foi um esforço inútil que me deu vontade de rir. Te amar nunca mais
será como te amar. E eu nem chorei a sua morte. No dia em que você deixou de me
amar eu já me amava por nós dois. No dia em que você deixou de me amar não
havia alma nos seus olhos. Você tinha tanto a perder e foi quase como se não tivesse nada a perder. E no final talvez tenha sido mesmo um sonho, penso
comigo. Mas nem era o final. Nem era. Você deixou de me amar antes do final,
você, que disse que nunca ia desistir de mim. No dia em que você deixou de me
amar eu achei banal porque você já tinha sumido do mapa. Nesse dia não escorreu
uma lágrima, porque nem era você. Nunca mais vai ser você. E nossos restos
caíram ao chão como flores murchas. No dia em você deixou de me amar eu ri
muito porque o dia estava lindo e eu nunca mais iria chorar por você. No dia em
que você deixou de me amar eu pensei no ridículo que foi pensar em morrer todos
os dias sendo que eu estava apenas dormindo dentro de mim. Eu sempre fui mais
você do que eu, e hoje eu te matei pra poder existir. Você, que disse que nunca
iria desistir de mim. Uma vez eu te disse que a gente não pode retirar as
nossas palavras. Eu saio dessa com a alma lavada, dos dois planos da vida eu sou
amor universal. No dia em que você deixou de me amar eu me perguntei se alguma
vez já havia amado. Porque se já tiver, cara, eu não faço ideia do que é o amor.
No dia que você deixou de me amar eu já tinha deixado de amar você, porque nem
era mais você. No dia que você deixou de me amar fez sol. No dia em que você deixou de me amar fez um puta de um sol, e adivinha?
Ele estava brilhando mais do que o seu sorriso.
Adeus.
Adeus.
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Querido Demônio
Pelo fato de odiar
escrever a nada, essa carta é para você.
Demônio enrustido, maquiado, camuflado, disfarçado, e principalmente, covarde. Essa é pra você. O eu que nunca quis ser.
Te dizer, meu amigo, meu fiel companheiro de todas as manhãs, tardes, noites, madrugadas, que não aguento mais essa cilada que você fez pra mim. E o nosso combinado, de que você podia viver desde que ninguém olhasse pra você, desde que ninguém te visse de verdade, desde que você se contentasse em aparecer sorrateiramente e subir aqui, nessa cama, a me esperar, todas as vezes que fecho os olhos? Fechar os olhos é a maior perda de tempo, existe uma parte de mim que continua acordada enquanto durmo e esse pedaço podre é você. E o nosso pacto, foi pra onde, será que você o engoliu também? Junto com todas essas migalhas de esperança, essas míseras lascas de compaixão que eu demorei tanto tempo pra catar por esse chão imundo e esfregar na sua cara, que dava, dava sim pra não morrer de fome, de falta, de pouco. Dava pra ficar de pé mesmo sendo pouco. Bem que diziam que essa coisa de fazer pacto com o demônio é meio perigosa, então tá aí, tô expondo pra todo mundo o pacto que a gente fez, e você vai fazer o que, vai fugir? Não, agora fica que você vai escutar. Há anos que quero te dizer, seu engraçadinho de merda, o que você fez comigo? Pra onde você me levou? Estou tentando descobrir até hoje. Você era tão pequeno e indefeso quando nos conhecemos, pensei que era preciso só um pouco de cuidado. Amor, talvez, isso existe em você? Estou ficando mais louca do que imaginava, é claro que amor existe em você, se não fosse o amor que lhe dei deveras como você iria crescer? Me agradeça, seu filho da puta. Se levante e olhe pra mim com o que lhe resta de dignidade. Esperei anos para reunir coragem e lhe destinar essa carta, sempre tive medo de você transparecer nos meus olhos e me impedir de realizar meus sonhos. Quem eu sou, sim, mundo, eu sou uma medrosa que se armou com coragem de papel. Sinto muito decepcionar alguém, mas é alto demais o pódio em que me colocaram, eu não sirvo mais pra interpretar esse papel. Estou botando fogo nele. Aliás, eu decepcionei você, amorzinho? Você esperava mais de mim, será? Eu sou medrosa, mas no começo eu não tinha medo de você. Você era tão pequeno que eu mal sentia a aproximação. Eu tenho medo, mas você é covarde. Covarde. Covarde. Covarde. Como se sente sendo um parasita intracelular? Como suas fibras não queimam e não se torcem em gravetos e não me deixa em paz? Já não basta a vergonha que passei. E quem é você, aqui nesse corpo, quem você é além de um protótipo. Quem você acha que é, pra assumir as rédeas dessa alma? Desgraçado, você precisa de mim pra viver. Você respira o mesmo ar que eu, se alimenta de tudo que me cerca e prefere absorver as belezas. Você sempre foi egoísta que eu sei. E vai deixando esses restos de imundície por aqui como se eu não pudesse enxergar mais. Ouça bem, eu tenho dois olhos e eu estou olhando pra você nesse instante. Eu ainda posso te ver, espertinho. Pena que quando você ia embora eu te pedia pra ficar, não por vontade própria, mas como uma mãe que não suporta a ausência de um filho mesmo que ele seja uma pessoa horrível. Dê a cara à tapa agora, meu filho, não é isso que você sempre gostou de fazer? A mãe tá aqui, não chora não. Lembra que você me ensinou que chorar é inútil porque a dor não passa? E mesmo quando eu chorei você me fez carinho. Sussurrando vai, afunda aí na merda, enquanto isso acenava pra mim. Esse é você. Esse sempre foi você. Um dissimulado. Sempre me fazendo acreditar que a culpa era minha, a falha era minha, você ria de mim dizendo: olha pra você mamãe, que fracasso de gente você se tornou. Demônio, querido, você já foi melhor que isso. Demorei uns anos pra conseguir perceber que você me matava aos poucos, e eu te jogava pra fora do berço, mas você nunca conseguiu se virar sozinho que eu bem sei. E eu sempre me culpei porque não sabia mais viver sem você. Eu via beleza em você porque você absorvia beleza de todas as coisas. Você roubou a beleza e se transformou nela, anunciando o quão valioso era, se promovendo. E eu te comprei com o resto do que me sobrou. Sim e sim. Eu medrosa, você covarde. E sempre nós dois andando juntos. Até que viramos um só. Veja só, que tristeza, eu nunca mais consegui chorar sem a leveza do sentir. Era como se a alegria estivesse sempre recolhendo a mão pra mim e abrindo pra você. Você sempre levou o crédito das coisas, sempre ditou as regras, mas ninguém nunca suspeitou. Coitados, se soubessem da junção de nós jamais teriam dito o quanto eu era corajosa. Você quase me calou em muitos momentos. Mas quem continuava lá ainda era eu, mesmo que você estivesse lá também. Depois de um tempo tornou-se insuportável dividir o corpo com você e tentei a todo custo te expulsar. Nada funcionou. Malandro você, esperto, e principalmente, insistente. Viu que eu não estava feliz com a sua companhia e se escondeu bem lá no fundo, mas quando eu achava que não, você aparecia em noites escuras, sombrias, que nunca consegui definir se eram uma representação real de você ou de mim. Como queria varrer você. Se eu pudesse. Mas teria que varrer eu mesma, e finalmente consegui. Varri os dois e me senti completamente vazia. Um espaço em branco, zero à esquerda, na maioria dos dias eu nem existia. Ninguém podia me olhar. E você estendia os braços pra mim, volta mamãe, me abraça, isso ainda é melhor do que o infinito dos dias incertos. Pelo menos eu sempre tive certeza de você. E você me arrastava e eu te arrastava comigo. Era sempre quando estava escuro. Nunca consegui me livrar de você. Mas hoje, depois de tanta coragem reunida, vim dizer que o covarde é você. E que eu não suporto mais essas duas mãos cravadas no pescoço, não aguento mais ter que dormir com os punhos e dentes cerrados com medo de você, suando frio, alucinando, viajando, pairando em nada, sobrevoando as minhas fortalezas de papel. Eu odeio acordar em um lugar diferente e não saber como fui parar lá, odeio não saber se estou dormindo, de fato, porque talvez você ainda esteja acordado. E você grita quando eu durmo também. É insuportável. Talvez seja por isso tantas olheiras e ossos depois de dormir horas e horas, talvez por isso as inúmeras dores de cabeça. Você grita demais. E só eu escuto. Deve ser por isso que ninguém acredita em mim. E dizem que estou ficando louca, eu queria ter alguém pra conversar sobre isso, então vim falar com você. Você acha que eu enlouqueci? Seja sincero. Eu nunca tive ódio de você, sempre achei você uma criatura inocente e indefesa que só precisava de amor. Mas você sugou todo o meu amor pra você. Eu estou com as mãos atadas e a impressão que tenho é que eu mesma me amarrei aqui. Só queria entender. Ninguém nunca entendeu você, não é mesmo? A falta de compreensão faz as pessoas cometerem loucuras. Talvez seja isso. Eu sempre te perdoei. Sempre me vi muito em você e na sua beleza meio triste, meio amarga, talvez, sombria, sempre teve um pouco de mim. A gente se misturou, porém você é solidão e eu liberdade. Amorzinho, tira essas correntes da mãe, vai, por favor, eu não aguento mais. Acordar assustada com todos esses hematomas e querer esconder pra ninguém olhar pra você. As pessoas acham você feio demais, vê se pode, sempre te achei tão bonito. Estamos aí, eu, você, minha visão distorcida e as fortalezas de papel. Me liberta, vai? Me deixa respirar um pouquinho, tá tudo tão triste, lembra da promessa que você me fez um dia de nunca transparecer nos meus olhos? Qual foi, tá querendo ver o mundo, é? O mundo não gosta de você, o mundo não te entende, não te quer, é por isso que sempre te escondi pra que você pudesse ser amado por mim. Hoje não sei se é mais amor, acho que é um pouco de consideração que sobrou. Eu tenho vergonha de você. É isso, no final de tudo, não é ódio, mágoa. Nem amor. É vergonha, eu tenho tanta vergonha de você por ter se transformado em mim. E tenho tanta vergonha de mim por achar que era capaz de cuidar de você sem me amarrar em você. Eu sou uma prisioneira de guerra, mas me deixa sair dessa. Não digo nem vencer, deu empate, fechou? Mas me deixa respirar. Não tem espaço pra nós dois mais nesse corpo, ou você vai ou eu vou ter que me retirar. Se você não for nós dois morremos. É isso que você queria, meu filho? Transformar mamãe nesse papel de parede bege que as pessoas olham e não sabem pro que serve? Dá um tempo. Eu lhe imploro. Vá embora. Não vou contar pra ninguém os seus segredos, só que não existe mais espaço pra nós dois. Eu te entendo, demônio abusivo e cruel. Covarde. Eu te aceito. Mas uma mãe também precisa deixar os filhos irem. Se quiser voltar, a casa é sua, mas dessa vez as luzes estão bem acesas. Boa noite.
Demônio enrustido, maquiado, camuflado, disfarçado, e principalmente, covarde. Essa é pra você. O eu que nunca quis ser.
Te dizer, meu amigo, meu fiel companheiro de todas as manhãs, tardes, noites, madrugadas, que não aguento mais essa cilada que você fez pra mim. E o nosso combinado, de que você podia viver desde que ninguém olhasse pra você, desde que ninguém te visse de verdade, desde que você se contentasse em aparecer sorrateiramente e subir aqui, nessa cama, a me esperar, todas as vezes que fecho os olhos? Fechar os olhos é a maior perda de tempo, existe uma parte de mim que continua acordada enquanto durmo e esse pedaço podre é você. E o nosso pacto, foi pra onde, será que você o engoliu também? Junto com todas essas migalhas de esperança, essas míseras lascas de compaixão que eu demorei tanto tempo pra catar por esse chão imundo e esfregar na sua cara, que dava, dava sim pra não morrer de fome, de falta, de pouco. Dava pra ficar de pé mesmo sendo pouco. Bem que diziam que essa coisa de fazer pacto com o demônio é meio perigosa, então tá aí, tô expondo pra todo mundo o pacto que a gente fez, e você vai fazer o que, vai fugir? Não, agora fica que você vai escutar. Há anos que quero te dizer, seu engraçadinho de merda, o que você fez comigo? Pra onde você me levou? Estou tentando descobrir até hoje. Você era tão pequeno e indefeso quando nos conhecemos, pensei que era preciso só um pouco de cuidado. Amor, talvez, isso existe em você? Estou ficando mais louca do que imaginava, é claro que amor existe em você, se não fosse o amor que lhe dei deveras como você iria crescer? Me agradeça, seu filho da puta. Se levante e olhe pra mim com o que lhe resta de dignidade. Esperei anos para reunir coragem e lhe destinar essa carta, sempre tive medo de você transparecer nos meus olhos e me impedir de realizar meus sonhos. Quem eu sou, sim, mundo, eu sou uma medrosa que se armou com coragem de papel. Sinto muito decepcionar alguém, mas é alto demais o pódio em que me colocaram, eu não sirvo mais pra interpretar esse papel. Estou botando fogo nele. Aliás, eu decepcionei você, amorzinho? Você esperava mais de mim, será? Eu sou medrosa, mas no começo eu não tinha medo de você. Você era tão pequeno que eu mal sentia a aproximação. Eu tenho medo, mas você é covarde. Covarde. Covarde. Covarde. Como se sente sendo um parasita intracelular? Como suas fibras não queimam e não se torcem em gravetos e não me deixa em paz? Já não basta a vergonha que passei. E quem é você, aqui nesse corpo, quem você é além de um protótipo. Quem você acha que é, pra assumir as rédeas dessa alma? Desgraçado, você precisa de mim pra viver. Você respira o mesmo ar que eu, se alimenta de tudo que me cerca e prefere absorver as belezas. Você sempre foi egoísta que eu sei. E vai deixando esses restos de imundície por aqui como se eu não pudesse enxergar mais. Ouça bem, eu tenho dois olhos e eu estou olhando pra você nesse instante. Eu ainda posso te ver, espertinho. Pena que quando você ia embora eu te pedia pra ficar, não por vontade própria, mas como uma mãe que não suporta a ausência de um filho mesmo que ele seja uma pessoa horrível. Dê a cara à tapa agora, meu filho, não é isso que você sempre gostou de fazer? A mãe tá aqui, não chora não. Lembra que você me ensinou que chorar é inútil porque a dor não passa? E mesmo quando eu chorei você me fez carinho. Sussurrando vai, afunda aí na merda, enquanto isso acenava pra mim. Esse é você. Esse sempre foi você. Um dissimulado. Sempre me fazendo acreditar que a culpa era minha, a falha era minha, você ria de mim dizendo: olha pra você mamãe, que fracasso de gente você se tornou. Demônio, querido, você já foi melhor que isso. Demorei uns anos pra conseguir perceber que você me matava aos poucos, e eu te jogava pra fora do berço, mas você nunca conseguiu se virar sozinho que eu bem sei. E eu sempre me culpei porque não sabia mais viver sem você. Eu via beleza em você porque você absorvia beleza de todas as coisas. Você roubou a beleza e se transformou nela, anunciando o quão valioso era, se promovendo. E eu te comprei com o resto do que me sobrou. Sim e sim. Eu medrosa, você covarde. E sempre nós dois andando juntos. Até que viramos um só. Veja só, que tristeza, eu nunca mais consegui chorar sem a leveza do sentir. Era como se a alegria estivesse sempre recolhendo a mão pra mim e abrindo pra você. Você sempre levou o crédito das coisas, sempre ditou as regras, mas ninguém nunca suspeitou. Coitados, se soubessem da junção de nós jamais teriam dito o quanto eu era corajosa. Você quase me calou em muitos momentos. Mas quem continuava lá ainda era eu, mesmo que você estivesse lá também. Depois de um tempo tornou-se insuportável dividir o corpo com você e tentei a todo custo te expulsar. Nada funcionou. Malandro você, esperto, e principalmente, insistente. Viu que eu não estava feliz com a sua companhia e se escondeu bem lá no fundo, mas quando eu achava que não, você aparecia em noites escuras, sombrias, que nunca consegui definir se eram uma representação real de você ou de mim. Como queria varrer você. Se eu pudesse. Mas teria que varrer eu mesma, e finalmente consegui. Varri os dois e me senti completamente vazia. Um espaço em branco, zero à esquerda, na maioria dos dias eu nem existia. Ninguém podia me olhar. E você estendia os braços pra mim, volta mamãe, me abraça, isso ainda é melhor do que o infinito dos dias incertos. Pelo menos eu sempre tive certeza de você. E você me arrastava e eu te arrastava comigo. Era sempre quando estava escuro. Nunca consegui me livrar de você. Mas hoje, depois de tanta coragem reunida, vim dizer que o covarde é você. E que eu não suporto mais essas duas mãos cravadas no pescoço, não aguento mais ter que dormir com os punhos e dentes cerrados com medo de você, suando frio, alucinando, viajando, pairando em nada, sobrevoando as minhas fortalezas de papel. Eu odeio acordar em um lugar diferente e não saber como fui parar lá, odeio não saber se estou dormindo, de fato, porque talvez você ainda esteja acordado. E você grita quando eu durmo também. É insuportável. Talvez seja por isso tantas olheiras e ossos depois de dormir horas e horas, talvez por isso as inúmeras dores de cabeça. Você grita demais. E só eu escuto. Deve ser por isso que ninguém acredita em mim. E dizem que estou ficando louca, eu queria ter alguém pra conversar sobre isso, então vim falar com você. Você acha que eu enlouqueci? Seja sincero. Eu nunca tive ódio de você, sempre achei você uma criatura inocente e indefesa que só precisava de amor. Mas você sugou todo o meu amor pra você. Eu estou com as mãos atadas e a impressão que tenho é que eu mesma me amarrei aqui. Só queria entender. Ninguém nunca entendeu você, não é mesmo? A falta de compreensão faz as pessoas cometerem loucuras. Talvez seja isso. Eu sempre te perdoei. Sempre me vi muito em você e na sua beleza meio triste, meio amarga, talvez, sombria, sempre teve um pouco de mim. A gente se misturou, porém você é solidão e eu liberdade. Amorzinho, tira essas correntes da mãe, vai, por favor, eu não aguento mais. Acordar assustada com todos esses hematomas e querer esconder pra ninguém olhar pra você. As pessoas acham você feio demais, vê se pode, sempre te achei tão bonito. Estamos aí, eu, você, minha visão distorcida e as fortalezas de papel. Me liberta, vai? Me deixa respirar um pouquinho, tá tudo tão triste, lembra da promessa que você me fez um dia de nunca transparecer nos meus olhos? Qual foi, tá querendo ver o mundo, é? O mundo não gosta de você, o mundo não te entende, não te quer, é por isso que sempre te escondi pra que você pudesse ser amado por mim. Hoje não sei se é mais amor, acho que é um pouco de consideração que sobrou. Eu tenho vergonha de você. É isso, no final de tudo, não é ódio, mágoa. Nem amor. É vergonha, eu tenho tanta vergonha de você por ter se transformado em mim. E tenho tanta vergonha de mim por achar que era capaz de cuidar de você sem me amarrar em você. Eu sou uma prisioneira de guerra, mas me deixa sair dessa. Não digo nem vencer, deu empate, fechou? Mas me deixa respirar. Não tem espaço pra nós dois mais nesse corpo, ou você vai ou eu vou ter que me retirar. Se você não for nós dois morremos. É isso que você queria, meu filho? Transformar mamãe nesse papel de parede bege que as pessoas olham e não sabem pro que serve? Dá um tempo. Eu lhe imploro. Vá embora. Não vou contar pra ninguém os seus segredos, só que não existe mais espaço pra nós dois. Eu te entendo, demônio abusivo e cruel. Covarde. Eu te aceito. Mas uma mãe também precisa deixar os filhos irem. Se quiser voltar, a casa é sua, mas dessa vez as luzes estão bem acesas. Boa noite.
sábado, 8 de junho de 2013
Sobre o que nunca pude tocar
Ela era tão bonita que me senti quase constrangido ao lhe dirigir a palavra. Ela era como qualquer mulher, mas sua beleza não era óbvia: existia algo em seus olhos. Ela possuía um par de singelos olhos tristes cor de mel. Que clareavam ao sol pra me fazer lembrar do céu, e que ainda assim no escuro iluminavam meu rosto como fogo em brasa, pra me lembrar do fel. Parecia-se como todas, mas quando a olhei, senti mesmo foi pena de mim. Pobre de mim, coitado de mim. Além de tristes, seus olhos eram distantes. E um olhar distante significa mais do que as palavras podem dizer. Estava de cabeça baixa e quando perguntei qual era o seu nome, ela se ergueu e fixou os olhos em mim, e não posso negar, além de pena de mim, senti medo. Era a primeira vez que eu via alguém tão longe e perto ao mesmo tempo. Ela me enxergava mas jamais seria capaz de me olhar. Não estava ali, e naquela noite eu tive certeza de que aquele era o tipo de mulher que jamais estaria em lugar algum. Aliás, não tipo, porque nunca cheguei a conhecer alguém como ela. Não exatamente. E eram os pequenos detalhes que distinguiam ela do resto que faziam dela tão bonita. Depois que ela disse seu nome, me calei. Além de medo e piedade de mim mesmo, senti vergonha. De súbito e estranhamente, como uma luz queimada que resolve acender. Não me sentia no direito de falar com aquela mulher, havia algo em sua voz que me dizia que não se deve despertar a beleza que descansa em sono profundo. Tudo nela se encaixava, principalmente o sorriso e os olhos. Quando os olhos estavam distantes, existia uma fraca linha abaixo que expressava algum tipo de sentimento ou de palavra que eu nunca cheguei a decifrar. E quando os olhos tentavam focalizar alguma coisa a boca se calava, ou melhor, tornava-se inexpressiva. Porque mesmo sem dizer aquela moça me disse muitas coisas. É claro que eu quis conhecê-la melhor, mas era como um sussurro, um segredo. Eu não quis roubar a moça de uma coisa que nunca cheguei a descobrir. Não quis roubar o seu tempo porque naqueles segundos eu pensei que ninguém jamais tinha me presenteado com tão fantástica visão, e era um insulto continuar ali, desfrutando do olhar vago e fundo de uma moça perdida. Era abuso eu inclusive achar em um primeiro momento que ela fosse perdida, porque por mais que não estivesse ali, tive a impressão de que ela sabia exatamente onde estava. A mulher que quando despedi sem dizer meu nome sorriu me olhando (nunca o contrário). A mulher que me mostrou, naquela noite e em tantas outras que não a vi, que os amores passageiros têm febres fúteis. A mulher que eu tenho certeza que estava sempre se doando, mas nunca se mostrando pra ninguém. Que estava exposta e ao mesmo tempo tinha construído fortalezas dentro de si mesma. E eu me senti vencido por aquela alma. Não que perder possuísse grande significado, mas naquele instante me senti como sangue e nada mais. Aquele olhar e aquele nome jamais me saíram da cabeça, e depois daquele dia, procurei ela em todos os lugares, mas daí lembrei que ela nunca estava, de fato, em algum lugar. Mas estava sempre onde deveria estar. O nome dela? Seu nome era solidão.
segunda-feira, 3 de junho de 2013
E eu nada

Hoje eu pensei que se
Que se a vida cair
Que se o vento me tirar daqui
Que se eu me enfiar nas árvores como um galho de luz
E não conseguir fugir
E eu nada
E eu tudo
E eu sempre mais do que devia ser
E eu aqui
E eu lá
E eu em nenhum lugar
Que se essa maré não virar
Eu não me soltar mais dessas correntes
E não conseguir voar
E eu como o vento nesse leva e traz
E eu que de tanto amar já nem sinto mais
E eu aqui
E eu nada
E eu que sequei como os lagos que derramam
As lágrimas dos peixes
E eu que sinto como as marés
Que recuam pra poder gritar
E girar e girar
E voltar
Como ombros pesados a aguardar
Uma canção
Um sonho bom
Qualquer coisa que seja assim
Muito menos do que dizer,
E que seja o vento
Que veio contra o cais
Que se abraçou à última vela
E sorriu de tanto não ser
E de não ser chorou pedindo perdão
E de tanto pedir perdão
Não agarrou nada nas mãos
E mesmo assim e mesmo assim
Conseguiu voar ainda mais alto
Mexendo em tudo
E abrindo gavetas e mais fundo
E eu que já nem sinto mais os teus sinais
E eu que de tanto amar chorei mais
Do que qualquer um
E eu aqui
E eu nada
E eu que queria secar como os peixes
Sem o sofrer
Desse eterno leva e traz
Desse eterno nunca mais
Pra sempre
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